terça-feira, 19 de janeiro de 2010

4 Informativo Semente Nova de dezembro de 2005

Editorial

O que é o Noviciado Franciscano – Capuchinho
O Noviciado é um tempo próprio e adequado para quem quer seguir Jesus Cristo, de acordo com o carisma do seu fundador, em nosso caso, São Francisco de Assis. Não é a última etapa da vida de formação do frade, mas sim um coroamento de toda formação. Por isso, é um tempo de aprofundamento e amadurecimento, no discernimento à vocação. Durante esse tempo, o noviço vai aperfeiçoando a sua fé em Jesus Cristo, de forma que a testemunhe no mundo, por onde quer que vá. A minha experiência do noviciado foi feita do ponto de vista espiritual, quando tive que mergulhar dentro de mim e descobrir aquela luz que me ilumina na caminhada de cristão consagrado por Jesus Cristo, junto às forças que me fazem viver em comunidade e fraternidade. Descobri que sou uma pessoa possuidora de muitos defeitos e qualidade, erros e acertos..., e que Deus é rico em misericórdia para com todos nós, apesar das nossas limitações. Acima de tudo, descobri que Ele ama a cada um de nós, independente de O amarmos como somos amados. Acredito que, em qualquer etapa da nossa vida, seja ela religiosa/ sacerdotal ou leiga, é necessário mergulharmos dentro de nós, a fim de buscarmos, com profundidade, o amor de Deus. E... o Noviciado é o tempo adequado para realizar isso com clareza e sinceridade de coração.
Frei Julio Cezar.

Franciscanismo

A humanização de Francisco de Assis
Francisco era um homem apaixonado e encantado pela vida, como qualquer jovem. Possuía várias virtudes... Entretanto, freqüentemente, no seu coração, permanecia um desejo de glória: “Um dia serei venerado em todo o mundo”.
A axiologia da vida mostrou-lhe vários sinais da manifestação e Deus em seu cotidiano. Um deles foi exatamente dar sentido pleno à vida: no rosto de Francisco estava configurado o amor de Jesus Cristo, pobre, humilde e crucificado. Para ele não havia mais sentido o desejo de glória, isto é, o sonho de ser cavaleiro, conforme o que ditava a cultura medieval, porém, a concretização de ser o soldado do Senhor. Francisco não abandonou o mundo conforme fizera o modelo de vida religiosa monástica, antes humanizou a realidade cósmica e deixou-se humanizar por ela.
Para ilustramos melhor essa convicção franciscana, basta olharmos a intimidade (relação) de Francisco com todas a criaturas, incluindo a morte; logo em seguida a aproximação do modelo de fé cristã ocidental com o estilo de fé oriental (o encontro com o sultão); e o amor evangélico pelos pobres. Neste último aspecto, podemos observar que a afetividade de Francisco se destaca numa das características mais marcantes de sua, ou seja, na sua riqueza de sentimentos, afetos e capacidade de expressá-los. Francisco não foi
só enamorado por Deus como qualquer outro santo, mas também por todos os homens e todas as criaturas, é irmão amigo de todos e de tudo. Com o coração mais que materno, coloca-se aos pés de todos e de cada um, obediente a toda a criatura humana, por amor a Deus. Extremamente cortês e nobre, sensível a tudo o que há de bom e belo, quer que seus seguidores sejam irmãos, alegres cantores da penitência-conversão, na paz e na fraternidade universal. Por isso, Francisco é um ser relacional e, nisto, consiste a humanização deste santo. Para ele, ninguém era anônimo... Tudo lhe fala. Tudo e todos eram interlocutores importantes.
Portanto, Francisco, na sua humanização, é o promotor da vida. No olhar de Francisco se revela a expressão exultante pela vida. Nela está o sentido pleno da humanização de Francisco. Sejamos loucos como Francisco, porque somente assim poderemos humanizar o mundo e deixar-se humanizar por ele.
Fr. Hélio Meireles Gonçalves

Historia da Vocação

Vocação é algo difícil de se falar, é um Dom de Deus que se constrói no dia-a-dia.
Tudo começou quando eu morava em uma cidade no interior do Paraná, de nome Ivaiporã. Meu pai, na época, era diácono permanente e eu, com sete anos de idade, servia meu pai na missão de coroinha. A vocação para o sacerdote já estava em mim, pois todos os domingos, ao terminar a celebração ou a missa e retornar à minha casa, com meus irmãos e vizinhos, celebrávamos “minhas missas”, no fundo do quintal; roubava pão da minha mãe, para fazer a Eucaristia, e suco da amora era o vinho: isto me completava! Com doze anos de idade, em 1980, mudamos para o Mato Grosso. Moramos em uma cidade por quase um ano e, depois, mudamos para um sítio. Em todos estes lugares estava sempre presente nas missas e grupos de jovens. Na comunidade, sempre fui visto como alguém que sempre dá apoio, estava sempre ajudando o grupo de jovem, o apostolado da oração, ajudando em teatro e tudo mais. Já no ano de 1990, resolvi experimentar a vida na cidade grande, à procura de melhoria de vida e um bom emprego. Então mudei para a capital, Cuiabá. Tudo foi muito bom, a experiência valeu a pena, não posso reclamar de nada. Fiz excelentes amizades e também consegui ótimos empregos. Como ganhava muito bem, sempre estava reunido com meus amigos em festas, “churrascadas”, danças e futebol, o meu preferido. Eu tinha um sonho, que era casar e ter muitos filhos, mas isto ficou só no desejo. Tive várias namoradas, porém nunca deu certo. Chegou uma época que as coisas melhoraram, comecei a trabalhar por conta própria, então esqueci da Igreja e cheguei a ponto de satirizar, “gozar” das pessoas que iam para suas Igrejas. Passei a amanhecer em lanchonetes, bares e danceterias... Tudo estava virando um mar, não “mar de rosa”, mas sim “de espinhos”. Um dia, ao retornar para casa, passei a maior vergonha de toda a minha vida: recebi uma carta e corri para abrir, pensando que era uma mulher interessada em minha pessoa; abri a carta e fui ao chão... nela estava escrito assim: “Olá, Cláudio, tudo bem com você? Espero que não fique zangado, estou lhe convidando para participar da reunião de preparação para a liturgia, aqui na Igreja, todas as quartas-feiras, a partir das 19:30”. Nesta carta estava gravado o seguinte nome: Alessandra, coordenadora da Liturgia.
Tenho muito a agradecer a Deus pois, a amizade que não consegui na rua, lá eu consegui. Começamos a caminhar com o grupo de oração, fazendo visitas nas casas. Nos momentos da leitura da palavra, eu escutava algo falar comigo e ficava perturbado, porque sentia que o Senhor me chamava para eu ser um padre. Nos domingos e quintas-feiras, sempre o frei Laudino ia celebrar e sempre falava que era para nós darmos um jeito de trabalhar para surgir padres dali, pois no Rio Grande do Sul não havia mais para mandar. Eu pensava que ele estava falando para mim, e voltava para casa completamente perturbado. Foi quando me abri com o Adelson e Josimar (o careca). Eles me aconselharam e fui falar com o Frei Laudino que me recebeu muito bem e disse que “a porta estava aberta ... Pessoas para dar conselho e conforto como o Frei Laudino, eu não conheci muitas! Vejam bem o que são os sinais de Deus, o Frei Vitor Paludo foi ordenado, ganhou uma árvore e disse que quem a plantasse seria padre... E a árvore foi entregue justamente para mim.
Hoje só tenho a agradecer a Deus e a Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. E Peço que vocês rezem por mim, pois preciso de muita oração.
Frei Cláudio Roberto

Filosofando

É possível filosofar?
Sempre que falamos em Filosofia, pensamos logo em intelectuais, em pessoas muito inteligentes... e assim por diante. Mas... não é bem por aí. Todos nós somos filósofos, pois temos uma filosofia de vida, temos valores que nos regem. A filosofia é um corpo de entendimento que compreende e direciona a existência humana, em suas mais variadas dimensões. Todos temos uma forma de compreender o mundo, especialistas ou não-especialistas, escolarizados ou não-escolarizados; consciente ou inconscientemente, explícita ou implicitamente... Quem vive possui uma filosofia de vida, uma concepção de mundo: o operário, o técnico, o trabalhador rural, o jovem, entre outros. A Filosofia traduz o sentir , o pensar e o agir do homem.
Isto porque todos nos orientamos por valores. Todavia, ainda não estamos falando de Filosofia propriamente dita, pois esta é sempre uma “reflexão crítica” sobre o sentido e o significado das coisas e das ações. Desse modo, a Filosofia nos envolve, não tendo como fugirmos dela, pois é como o ar que respiramos. Se nós não escolhermos qual a nossa filosofia, da qual tiraremos o sentido que daremos a nossa existência, a sociedade na qual vivemos nos dará, ou melhor, nos imporá a filosofia dela. Quem não pensa é pensado por outro!
Por isso, nós, que fazemos parte de uma instituição, respondemo-nos a pergunta: apenas vivemos com alguns valores ou submetemos esses valores a uma reflexão crítica para, assim, brotarem novos conceitos, novos valores?! Pensamos ou somos pensados?
Creiamos que a vida religiosa está necessitando passar por essa reflexão crítica de seus valores. Não podemos mais nos deixar levar pela filosofia vigente da sociedade, das instituições, sem antes submetê-las a essa reflexão crítica; temos que elaborar a nossa própria filosofia... O filósofo não é profeta no sentido do senso comum, mas profeta no sentido da bíblia, ou seja, indivíduo capaz de ler, nos acontecimentos do presente, o significado dos que estão por vir, o que está a se desenvolver. A filosofia é uma arma na luta pela vida e pela emancipação do ser humano. Porém, ela nunca é neutra, sempre estará a serviço de alguém, de poderes políticos, de instituições... Então, como poderemos fazer esse processo de filosofar, de buscar novos caminhos, conceitos e valores?
Propomos aqui esse três passos que nos guiará a esse processo:
1º- Filosofar é inventariar valores que explicam e orientam nossa vida e a vida da sociedade, e que dimensiona as finalidades da prática humana;
2º- Filosofar é o momento da crítica, tomar os valores e submetê-los à crítica;
3º- É a construção crítica dos valores que sejam significativos para a compreensão e orientação de nossas vidas, individualmente e dentro da sociedade e instituições.
Não daremos respostas ou conclusões, pois queremos que cada um faça a sua própria reflexão. Abraços.
Frei Ricardo.

Humor

Em Moscou, um agente da KGB se aproxima do velhinho que está lendo um livro de gramática hebraica, sentado num banco de jardim.
- Pensando em ir para Israel nessa idade, vovô?
- Não é nada disso. Sabe, o hebraico é a língua do paraíso!
- E se você for para o inferno, vovô?
- Não tem problema. Já sei falar russo!
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O caipira está belo e folgado pescando à beira de um rio, quando aparece um sujeito desesperado:
- Ei, amigo! O senhor não viu por aí uma mulher loira, de camisa azul e saia amarela?
- Ora, vi sim senhor! Passou aqui inda agorinha!
- Puxa, graças a Deus! Então ela não deve estar longe, né?
- Tá não! Principalmente hoje que a correnteza tá fraquinha, fraquinha...

Mensagem

NATAL
Estamos nos preparando para mais um natal. Celebrar o natal é celebrar a chegada de Jesus, é celebrar o encontro de Deus com a humanidade; é celebrar o encontro das pessoas , pois natal é a festa da fraternidade. Precisamos retomar o sentido do natal, nos dias de hoje, tão marcado pela onda do consumismo. Para o cristão, natal não deve ser sinônimo de consumismo, mas de festa de Jesus Cristo, que veio trazer a vida e a paz, fruto da justiça. Mas a justiça que Jesus quer implantar parece que está esquecida pela maior parte da humanidade. É forte hoje a onda das injustiças que geram corrupção, exclusões, violências e falta de amor entre as pessoas. Precisamos abrir-nos ao Espírito de Jesus, que nasce pobre em Belém, tendo presente que “o fruto do Espírito é o amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão, domínio de si” (Gl 5, 22). Olhando para a história de Cristo, fica mais fácil entender por que Ele tem tanto carinho e amor para com os pobres, excluídos e sofredores. Porque Ele passou por essa situação. Experimentou o que é ser excluído, fez a experiência da dor e da rejeição, desde o momento de seu nascimento Deus quis conhecer de perto a vida daqueles que veio resgatar. Quis sentir a experiência própria de não ter casa, terra, cidadania reconhecida, o que é ser desprezado na sociedade. E Maria, a mãe de Jesus e nossa, que acolheu com alegria e disposição a chegada de Jesus, não encontrou na noite gloriosa, lugar para acolher o filho de Deus. Hoje, passados mais de dois mil anos, Jesus continua a ser rejeitado e excluído na sociedade, nos tantos sem vez... As pontes e viadutos, as ruas, os cortiços, barracas e favelas tornam-se hoje abrigo de Jesus; os barracos de lona preta, à beira das estradas, que ainda dão medo e descaso a tantos (cristãos!!!), acolhem a tantas famílias que, como Jesus, não têm onde recostar a cabeça... Os milhares de desempregados são como o casal de Nazaré, migrando para o Egito, em busca de sobrevivência para seu filho, ameaçado pelo tirano Herodes. Os Herodes de hoje se multiplicaram e seus palácios aumentaram. Estão em Brasília, nas Câmaras estaduais e muitos municípios, nas empresas do agro-negócio, destruição da natureza, extração e exportação dos minérios, nas hidroelétricas... E famílias como a de Jesus, Maria e José migrando para sobreviver. O cristão deve fazer de seu coração a manjedoura que acolhe Jesus, acolhendo e se colocando ao lado dos que sofrem. Não um acolhimento hipócrita, mas concreto, que construa a justiça, não comungando com a opressão e corrupção. Que o natal traga energia, tornando-nos mais fraternos e humanos. E que, como Maria, geremos o amor, justiça, solidariedade e paz. Assim, haverá vida abundantemente para todos.
Frei José Olcoski

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