quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A missa, imagem do processo escatológico do mundo

Fomos acostumado por uma história de séculos, a ver e interpretar a missa sob enfoque de "sacrifício", de celebração memorial da Páscoa, de evento comunitário e de muitos outros aspectos, formulados e fundamentados no decorrer da história do discurso teológico. A todos eles, devemos acrescentar aquilo que podemos chamar de caráter escatológico da missa. Na missa se reflete o processo escatológico do mundo.

Um dos argumentos-chave de nossas reflexões sobre o processo escatológico da história e do mundo é que nada se faz sem a colaboração do homem [do ser humano]. O processo de construção do Reino de Deus começa no trabalho e no esforço humano. É a partir dele e por meio dele que Deus começa a realização de seus plano.

Deus toma a sério a liberdade humana. Se o homem [ser humano] não colaborar, os planos de Deus não vão para frente. A plenificação do Reino, que é obra exclusiva de Deus, não pode realizar-se sem a preparação deste Reino no decorrer do processo histórico. Esta preparação, no entanto, é tarefa e obrigação do ser humano.

Compreendendo toda a dinâmica dialética da história a partir desse enfoque, descobrimos na missa o espelho fiel e muito real daquilo que chamamos o processo escatológico da construção do Reino de Deus.

Também na missa, o ser humano apresenta primeiro aquilo que ele fez: pão e vinho, fruto da terra e do trabalho humano. Nunca haverá missa, se o ser humano não trouxer primeiro o pão e o vinho. Produtos humanos, elaborados pelo esforço humano. Preparados para serem mais, para serem plenificados, mas preparados pelos homens [pelo ser humano].

No OFERTÓRIO Deus aceita aquilo que o homem [ser humano] fez, aquilo que o homem podia fazer. Mais, [ser humano] não é capaz de fazer, mas aquilo que podia, fez.

Na CONSAGRAÇÃO, agora, é o próprio Deus agindo. Mas não age a partir daquilo que o homem [ser humano] fez, a partir do trabalho dele, plenificando a obra humana, elevando-a a nível infinitamente superior. o pão e o vinho se tornam corpo e sangue de Jesus Cristo. Esta é a obra de Deus. Mas nunca haveria corpo e sangue de Cristo se o homem [ser humano] não preparasse primeiro pão e vinho. Igualmente, não haverá plenificação do Reino se o homem [ser humano], primeiro, não preparar esta plenificação, começando já com a realização dos grandes valores deste Reino.

Na COMUNHÃO vivemos na missa o reflexo daquilo que chamamos a vontade salvífica de Deus. Todo agir de Deus visa à felicidade do homem [ser humano]. Deus não transforma pão e vinho nem plenifica o Reino para si mesmo. Ele o faz para o homem [ser humano]. Devolve o resultado de sua plenificação ao próprio homem [ser humano], dando infinitamente mais do que aquilo que o homem [ser humano] trouxe. O Deus generoso que devolve as mancheias, "uma boa medida, calcada, agitada a transbordar" (Lc 6, 38). É assim que Deus age na missa; é assim que Deus age também no imenso processo histórico da realização de seu Reino,

Compreendendo a missa também dessa forma, ela se torna o paradigma, o exemplar do agir de Deus neste mundo. Agir que nunca permanece vazio. Agir que conta com o agir humano, que pressupõe este agir, para depois plenificá-lo e, plenificando, devolvê-lo ao próprio homem [ser humano] como presente, como dom e graça.

Assim é Deus. Este seu ser e seu agir, ele no-lo revela na missa. Este seu ser e seu agir, ele o revela também no processo histórico da construção do Reino, com a qual chamou os homens [ser humano] a coloborar. A missa se torna o modelo dessa colaboração.

FONTE: BLANK, Renold J. O nosso mundo tem futuro: Escatologia Cristã 2. São Paulo: Paulinas, 1993. pp. 73-74.

Postado por: Hélio Meireles Gonçalves

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