segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Comensalidade Solidária

texto: frei Luciano S. Santos


A comensalidade como uma dos principais caminhos para promover a inclusão social, partilha solidária. Segundo Crossan, “saber o que, onde, como, quando e com quem as pessoas comem é conhecer o caráter de uma sociedade”.
A comensalidade não é apenas uma simples refeição em comum, ela supõe a solidariedade e cooperação de uns para com os outros, ela faz da mesa um lugar vertical, lugar de encontro para comer e conviver sem fazer discriminação de pessoas. Assim como Jesus fazia, sentava a mesa com os excluídos de seu tempo.
O ato de acolher, de dar de comer, de conviver se concretizam e se maximizam na comensalidade. Quando entramos em um ambiente e somos bem acolhidos e convidados a participar da mesa, nos sentimos parte da comunidade ou da família que nos acolhe. Era desta forma que os primeiros cristãos se organizavam, ou idealizavam a celebração da comensalidade eucarística (cf. At 2,42-47).
Para Paulo, a Ceia do Senhor - eucaristia deve ser uma refeição compartilhada em que pobres e ricos em torno da mesa tenham os mesmos direitos. Mesmo que a maior contribuição para as refeições devesse provir dos ricos, isso não deve causar desunião, inferioridade, nem dar privilégios a alguns, mas promover a fraternidade e a justiça entre todos.
Aproximar-se dessa mesa exige de cada comensal um compromisso fora dela, tanto antes como depois, qual seja, de participar de forma solidária na vida do outro, principalmente do pobre.
A junção entre refeição compartilhada e Ceia eucarística deve acontecer de forma natural, pois uma é complemento da outra. A solidariedade e a partilha na mesa devem levar o cristão/ã a celebrar a eucaristia, enquanto que a eucaristia deve ser o sustento, fonte de toda ação, que faz o cristão/ã partilhar aquilo que tem. Isso faz com que a refeição se torne sagrada, uma ação de graças ou um agir solidário.
Para a comunidade paulina a mesa eucarística deveria promover a libertação do pobre em sua totalidade, entretanto, em algumas comunidades o que se via era o contrário. Os ricos, que não trabalhavam, tinham folga de tempo, obviamente chegavam mais cedo às celebrações. Enquanto os pobres, que trabalhavam o dia todo para garantir o seu pão, chegavam às celebrações quando estas já tinham começado e os ricos já tinham comido a melhor parte, quando não tudo. Voltavam muitas vezes para casa com fome. Para os pobres, o que restavam eram as sobras da mesa, um pouco de vinho e pedaços de pão. Isto aconteceu e acontece ainda hoje, o que nos leva a questionar assim como: “Que sentido tem celebrar a memória de Jesus numa comunidade onde oprimidos e opressores se encontram lado a lado? Como celebrar dignamente a eucaristia num mundo de injustiças e de violações dos direitos humanos?” Para todos aqueles/as que conseguem ver na eucaristia, que se torna comensalidade uma extensão do Reino de Deus, devem tomar consciência de que os elementos necessários para a vida humana, como pão, água, vestuário, educação, saúde, principalmente a comida e a bebida, devem estar disponíveis a todos e a todas, não somente a um pequeno grupo restrito que chega sempre por primeiro.

Bibiografia:

CROSSAN, Jonh. Jesus: uma biografia revolucionária. Rio de Janeiro: Imago, 1995.
BOFF, Leonardo. O pai nosso: a oração da libertação integral. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1980.
______. Do lugar do pobre. Petrópolis: Vozes, 1984.

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